By Ana Paula Pinheiro, Writer, British Council

06 de Nov de 2020 - 16:06

Veronica Senior trabalha no British Council há 43 anos e foi uma das pessoas reconhecidas na Queen's Birthday Honors List 2020, com o prémio MBE (Member of the Order of the British Empire). 

Quando chegou a Portugal em 1973 para acabar o seu curso em estudos latino-americanos começou por ser professora de inglês num colégio, mas rapidamente percebeu que ensinar crianças não era o seu forte. Foi assim que chegou ao British Council, que estava em expansão na altura e a recrutar novos professores. 

Quer conhecer melhor a Verónica?  Nós também! Fizemos-lhe uma pequena entrevista para a conhecermos melhor. 

1- Como é que chegou ao British Council?

Já estou no British Council há 43 anos e foi muito simples. Estava a trabalhar num colégio e ensinava inglês a crianças, mas percebi rapidamente que não era isso que queria fazer. Na altura o British Council estava a ter muitas inscrições, as pessoas chegavam mesmo a fazer fila à porta do British Council para serem nossos alunos, então decidi enviar o meu currículo e fui recrutada. Comecei como professora de inglês de adultos e ao longo do tempo fui desempenhando também funções de gestão. 

2- O que é que fez com que a Verónica ficasse tantos seguidos no British Council e em Portugal?

Foram os constantes projetos, desafios e o profissionalismo. Quando se adquire funções de gestão, é prática do British Council que troquemos de país para ter experiências noutros países, mas eu pedi sempre para ficar cá, em Portugal, porque gostava muito e também claro, porque formei família aqui. 

3- Porque é que gosta tanto deste país? 

Os portugueses têm uma expressão que é “Portugal tem mel” e para mim isso é verdade, nós temos muitos exemplos de professores que vieram para Portugal sem saber se iam ficar como eu e, passado algum tempo decidem ficar, compram casa e formam família. Adoro o país, acho que tem muitas vantagens. A atitude por exemplo que os portugueses têm em relação às crianças, mesmo os jovens adoram bebés, adoram crianças e essa é uma atitude muito saudável em relação à família. Por isso resolvi ficar.

4- E qual é a sua expressão preferida em português? 

A minha expressão favorita é “a galinha da minha vizinha é sempre mais gorda que a minha”, que em inglês é “the grass always greener on the other side”, mas eu prefiro a maneira de dizer em português. 

5- O que acha da comida portuguesa? De que é que gosta mais? 

Logo na altura em que cheguei a Portugal, no ano de 1973, estava num autocarro e enquanto esperávamos que o autocarro arrancasse, assisti à conversa entre o condutor e o senhor que vendia os bilhetes. Estavam os dois a conversar sobre o que tinham comido durante o fim de semana. Eu estranhei porque se fosse em Inglaterra a conversa seria provavelmente sobre futebol ou boxing, por exemplo. Recordo-me que pensei o seguinte: “Isto é uma maravilha, isto é um país onde a comida é muito importante”. E é verdade, ainda hoje reparo que os portugueses adoram falar dos restaurantes onde estiveram, das refeições que fizeram. E sim, a comida é uma das coisas que mais admiro neste país.

6- Qual é o seu prato português favorito?

Eu gosto de combinar pratos portugueses com pratos ingleses. Por exemplo, adoro Bacalhau com Natas, mas gosto de acompanhar com algo saudável, como brócolos ou feijão verde e só as duas coisas juntas é que me satisfazem. 

7- E comidas ou produtos britânicos, de que é que sente mais falta?

Uma das vantagens de Portugal é que temos acesso a todos os produtos do mundo através de lojas que vendem produtos de todo o mundo. E assim é possível encontrar aquilo que nos faz falta, por exemplo: as salsichas inglesas, a “marmalade”, que não é igual à marmelada portuguesa, é um doce de laranja amarga. 

8- E fora a comida, de que é que sente mais falta? 

O que me faz falta mesmo é o teatro inglês. Quando vou a Inglaterra, faço questão de ir sempre ao teatro. 

9- Aproveitando que falou de teatro, gosta de ler em português? 

Eu sempre gostei muito de Eça de Queirós, acho que ele tem um sentido de humor extraordinário. Tentei ler José Saramago, gosto, mas não consigo ter o mesmo prazer em ler. Acho que o José Saramago é muito erudito, muito “clever” mas falta-me aquela narrativa que é preciso para levar uma pessoa até ao fim do livro. 

10- Está a ler algum livro português neste momento?

Neste momento estou a ler um livro chamado “Os retornados” de Júlio Magalhães e é sobre as pessoas que vieram de África na altura da descolonização. As ideias são muito interessantes. Quando me reformar vou ver se consigo ler mais sobre esta temática. 

11- Consegue eleger 5 dos seus autores favoritos? 

Hilary Mantel, Margaret Atwood, William Golding, Edward St Aubyn e Jerome K Jerome. Este último autor tem dois livros que são muito divertidos “3 Men in a Boat" e o "3 Men on the Bummel”. 

12- E agora vamos falar sobre o prémio que recebeu, para quem não conhece, o que é o prémio MBE?  

O MBE traduz-se por “Member of the Order of the British Empire”, tem este nome devido à ligação ao império, mas acho que está um pouco antiquado e deviam mudar para algo como “Member of the British Community”. Basicamente este prémio reconhece as pessoas que tenham contribuído para a comunidade britânica de alguma forma. Contudo não é apenas para britânicos, é para qualquer pessoa, de qualquer nacionalidade, que tenha de facto contribuído para a comunidade britânica ou para as ligações culturais entre determinado país e o Reino Unido. 

A pessoa não se candidata, é nomeada e depois essa nomeação tem de ser apoiada por diferentes testemunhos para confirmar a contribuição dessa pessoa para Inglaterra. 

13- Como é que se sentiu quando foi condecorada com este prémio? 

Em junho, eu recebi o contacto do embaixador de Reino Unido em Portugal a informar-me que estava nomeada e se a aceitava e eu disse que sim. Eu aceitei a condecoração e aceitei por dois motivos, porque eu estava agradecida e também porque acho que é uma boa oportunidade para o British Council mostrar o que faz. Além do ensino da língua inglesa e da certificação de exames, o British Council faz muito mais, ao longo do tempo tivemos imensos projetos culturais e sociais, como por exemplo, um projeto para ajudar vítimas de violência doméstica, que considerei muito importante. 

14- Para terminar a entrevista, a Veronica prefere chá ou café?  

A verdade é que não consigo funcionar sem um café por dia. É só um, mas é imprescindível. Mas sendo inglesa também gosto do meu chá, normalmente da parte da tarde, não é o chá das 5h mas é mais ou menos a esta hora. 

Obrigada!